Sunday, May 27, 2007

37 semanas e 3 dias

Domingo, dia 13 de Maio de 2007. Dormi muito e bem.

Sonhei com a Naoli Vinaver. Sonhei que Naoli tinha assistido ao meu parto e, no final, passeando por uma bela pradaria, conversavamos sobre a experiência. Ela perguntava, não foi difícil, pois não? E eu respondia, nunca pensei que fosse tão fácil. Incrível.

Quando acordei pensei que este sonho só podia ser um bom presságio.

É hora de almoço. O Gaspar ainda não nasceu.
Perco algum sangue. Preocupada? Sim, um pouco.
Fico atenta. Volto a perder um pouquito de sangue. Nada significativo, já não estou preocupada, sei que ainda não está na hora de ir para o hospital.
Entretanto chega a minha Doula.
As contracções apertam mais um bocadito.

Como uma sopa, vou bebendo sumos de fruta e água e vou comendo bolachas de água e sal.

Quero ficar por casa o máximo de tempo possível.

As contracções parecem não evoluir. A Magda prepara um chá para eu beber, com o intuito de aumentar o efeito das contracções. É uma receita de Naoli Vinaver. Aquece, estimula, relaxa e, por sua vez, dá energia ao corpo da parturiente.

As contracções vão subindo de intensidade e duração. Concentro-me positivamente no processo pelo qual estou a passar. Não sinto dor, digo para mim, são apenas contracções. O saco de sementes que a Magda trouxe ajuda-me a aliviar a pressão que sinto no ventre.

Já não consigo estar parada, a dor começa a apertar. Tenho que começar a dança. A dança do nascimento. Relaxo, de pé, fazendo movimentos circulares com a anca, apertando o saco de sementes quente contra mim.

Devem ser umas 5 da tarde, alguma coisa me diz que temos que ir para o hospital. Chegou a hora.
A Magda segue no seu carro para o hospital. Eu vou no carro da Marta, com a Marta e a minha mãe.

Chego ao hospital. Depois de me inscrever à entrada da urgência sigo para uma sala onde um enfermeiro me coloca os eléctrodos do cardiotocógrafo (CTG) na barriga, um aparelho que permite registar a frequência e a intensidade das contracções, assim como o ritmo cardíaco fetal. Deveria ficar 30 minutos no CTG, mas a Dra. Antónia, a médica obstetra de serviço, ao fim de poucos minutos, por lapso, diz ao enfermeiro para parar com o CTG.

O enfermeiro entrega-me uma bata. Dispo-me, visto a bata e guardo a minha roupa num saco plástico fornecido pelo hospital. A médica chama-me para me observar. Assim que me sento na marquesa começo a sangrar. A Dra. Antónia vem observar-me e, para espanto de todos, já estou com 7 cm de dilatação. Ainda bem que saí do CTG. Dali vou directo para a sala de partos.

Na sala de partos voltam a ligar-me ao CTG. As contracções ainda são suportáveis.

De repente, as duas enfremeiras que irão assistir o meu parto, entram na sala com uma parafernália esquisita.
Querem rebentar-me as águas. Porquê, pergunto. Para acelerar o trabalho de parto, para despachar. Não, nem pensar, nada disso. Não quero. Quanto mais tempo a bolsa estiver intacta, melhor para o bebé, fica mais protegido. O bebé também sente as contracções. Depois de as águas rebentarem a pressão que as contracções exercem é maior para o bebé.

Passado algum tempo a Dra. Antónia entra na sala e diz-me que vão mesmo ter que rebentar as águas, por o CTG ter registado duas falhas no ritmo cardíaco fetal. Assim, há que acelerar o processo. Tudo bem.

Estava só com a minha Doula quando sinto a primeira contracção forte, mesmo forte, que guinada! Xiça! Acompanhada de uma forte vontade de puxar. Xiça! Fico assustada. Não sei o que fazer, resisto contra o que o meu corpo pede para eu fazer. Contorço-me toda em desespero, como se fosse ficar naquele estado eternamente. A Magda vai chamar o pessoal, enfermeiras e médica. De repente tenho a sensação de que a sala é invadida por uma série de gente, perdi a noção do que se passava à minha volta. Só via uma luz forte a incidir directamente nos meus olhos e a minha Doula, a minha querida Magda. A minha ligação à realidade.

As palavras, a mão, e todo o apoio proporcionada pela Doula foram fundamentais. Houve um momento que pensei não ser capaz de ajudar o Gaspar a nascer se não fosse o apoio da Magda. Por breves momentos achei que não ía ter mais força.
A Dra. Antónia também foi espectacular. Um vozeirão forte, seguro e carinhoso. Deu-me muita força.

Cada contracção é um cresecendo. Começa a subir, a subir, a subir, até que atinge o seu pico máximo de dor. Aí temos que fazer muita, muita força para empurrar o bebé cá para fora. Quanto mais força fazia, menos dor sentia. Incrível como está tudo tão bem engrenado. Nos curtos intervalos entre contracções há que descansar, relaxar e recuperar o fôlego até à próxima contracção.

Cada vez que fazia força agarrava-me de um lado à Magda, do outro à Dra.Antónia, com tanta força quanto podia. Coitada da Dra. Antónia, agarrei-lhe as "carnes" com tanta força...

A certa altura alguém me diz que é mesmo necessário fazer uma episiotomia. Mais tarde vim a saber que o Gaspar tinha o cordão umbilical à volta do pescoço.

Passado pouco tempo o Gaspar está nos meus braços, pequeno, frágil, de olhos abertos e sobrolho franzido. Tão fofo o pequeno Gaspar. Ainda não me acredito que o tenho nos meus braços. De repente materializam-se os 9 meses de gravidez. Tenho um bebé e sou mamã. Incrível.

A experiência de dar à luz foi uma experiência sublime, visceral, poderosa. Recomenda-se! : )

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